A Área de Lazer do Trabalhador virou cenário nordestino no último final de semana. O mosaico de sotaques, do ‘r’ arrastado do interior paulista ao ‘agudo’ do Nordeste, não passava despercebido por quem transitava entre as mesas. A variedade de comida era sintoma claro da miscigenação de culturas. Tinha acarajé, baião de dois, sarapatel e até mesmo buchada de bode. Mas também tinha churros, cachorro quente, lanches, e o indefectível pastelzinho de feira.

As atrações musicais remontavam bem o cenário daquela região. Muito rala-bucho e bate-coxa no forró, maracatu, e até mesmo o tecnobrega – aquela fusão animada do eletrônico com a música brega.

O que se pôde constatar, sem titubear, é que o povo nordestino não arreda o pé de um festejo. Tanto que lotou o recinto nos dois dias de Festa das Tradições Nordestinas de Louveira, que mal nasceu e já se mostrou arretada.

Certamente, a Festa superou as expectativas, tanto de público quanto de vendas. Quem reparou na quantidade de gente chegando ao recinto já percebia os sinais do sucesso logo no primeiro dia.  Era gente e mais gente chegando, animados com a chance de ver de perto a banda Calcinha Preta, a primeira a levar o forró ao horário nobre da TV, com o hit ‘Você não Vale nada mas eu gosto de você’ da novela Caminho das Índias.

A todo o momento se via casais de todas as idades e estados no arrasta-pé. Os ritmos musicais de lá de cima do Brasil foram todos recordados. Teve o forró do Trio Serelepe, o maracatu dos Tambores de Akice e a tradicional Banda de Pífanos de Caruaru – apresentando uma justa homenagem a Dominguinhos. Recebeu ainda a visita ilustre do prefeito da alagoana Maravilhas, Carlos Luiz Martins, que teve a oportunidade de subir ao palco junto ao prefeito Junior Finamore.

O dia seguinte seguiu o mesmo tom. Pela primeira vez em São Paulo, Mano Walter mostrou o porquê é a sensação do momento naquelas bandas, mesclando o forró com o sertanejo universitário. E, encerrando a festa com o seu irreverente bordão ‘o sistema é bruto’, o Trio da Huanna trouxe da Bahia uma batida diferente, um show dançante, bem popular.

Enfim, um pedaço de nordeste em meio aos parreirais, saudando a grande população que migrou de lá e ajudou a construir a Louveira de hoje. 

Quadrilha Junina Tia Bola é destaque da Festa no domingo

Cerca de trinta dançarinos adornados com roupa de carnaval se destacaram na multidão no segundo dia de Festa. Vindos de São Vicente, eles formavam a Quadrilha Junina Tia Bola, tricampeã estadual e atual campeã intermunicipal. O nome é uma homenagem a mãe do marcador da quadrilha, Marcus Velho, que faleceu a aproximadamente oito meses. Sobre a apresentação na cidade, ele disse: “Em Louveira, ao dançar produzimos a energia”, diz, repetindo o mote do grupo.

Comerciantes se surpreendem com organização e público

Instalado em uma das barracas da festa, o restaurante de José Ribamar Maia vendeu cerca de 18 mil pratos, entre baião de dois, buchada de bode e outras delícias do nordeste. “O público foi surpreendente. Pensamos uma hora que não iríamos dar conta, mas conseguimos sustentar o pessoal”, disse Ribamar. Ele diz que, em conversas com os visitantes e os comerciantes, ouviu muitos elogios à organização do evento. “Gostamos muito de trabalhar lá. Gostei bastante do público e dos organizadores, pessoal gente boa”.

Também surpreendida com a grande quantidade de frequentadores, a comerciante Carla Rosangela Ferreira disse que vendeu “tudo o que tinha”. “Não acreditávamos que iríamos vender tantos pratos. Se eu tivesse mais com certeza venderia”, afirma a bahiana radicada em Jundiaí, que acertou a mão no acarajé, sarapatel e na buchada de bode. Para ela, a festa não poderia ter sido melhor. “A organização, a decoração, (eu) não tinha nada do que reclamar, foi tudo muito bom. Se tivesse mais finais de semana eu com certeza estaria presente”, concluiu.